segunda-feira, 3 de agosto de 2009

Sangue e Prazer

Ele acorda...o gosto agradavel ainda na boca...que loucura. Está nu...ela já se foi. Ele levanta. Esta atrasado como sempre. Vai até o banheiro e suja o rosto com o creme de barbear. A lâmina faz o corte perfeito. Excelente. Entra ao chuveiro. A água é quente e relaxante. As marcas das unhas estão nas costas e no peito. Acaba o banho e se enxuga. O perfume francês espalha pelo corpo. Se veste. Terno, gravata e sapatos italianos. Penteia o cabelo cortado perfeitamente. Coloca a caneta ao bolso. Detalhes em ouro combinando como relógio. Esta impecável. Como sempre gosta de estar assim depois de uma noite de amor. Tudo isto herança de uma época que possuía muita riqueza. Hoje coleciona dividas, mas mantém a aparência. Adentra ao carro novo e reluzente, mas não o agrada como o de tempos atrás. Segue rumo ao trabalho. Um belo trabalho em uma grande empresa, porém sabe que poderia alcançar mais e mais.

Chegou. O prédio em nobre avenida lhe agrada. Adentra ao local sempre simpático cumprimentado a todos. Esta sorridente e acordou de bom humor. Chega a recepção e deseja bom dia as duas secretárias que ali ficam. Sorriso no rosto. Mal sabem elas o que se passa na cabeça do homem.

Ele abre a porta de sua sala e se senta um sua mesa saudando carinhosamente a mulher que senta ao seu lado. Ela é um pouco mais velha que ele. O homem a observa logo cedo trabalhando freneticamente e comendo compulsivamente. Ela é pesada. Ele imagina. Muito pesada. Ele mantém a forma em academia e já treinou artes marciais. Já enfrentou caras pesados. Imagina que seria como a luta tentar possuir ela na cama. Ele ri alto. Que cena bizarra lhe vem a cabeça.

A mulher indaga se havia algum problema acontecendo. Seu mau humor é terrível. Ele diz que não. Só lembrou de uma piada.

Como sempre atrasada e depois de uma noite de balada com certeza, chega a outra mulher. Ela também é mais velha que o homem. Loira, de estatura baixa, magra. O rapaz imagina agora uma luta entre as duas. De biquíni para ficar ainda mais hilário. Ele imagina que esta muito alegre por pensar tanta besteira.

A jovem é loira de longos cabelos e se veste como as patricinhas que desfilam em shoppings combinando cada peça de roupa.

O dia de trabalho flui normal. Contratos para negociações de muito dinheiro. Chega o fim do dia e o celular toca.

Ele atende. É a mulher. A da noite passada. Ao perceber que é ela seu tom de voz muda. Um amigo seu uma vez disse que aquele era o segredo dele com as mulheres, disse que ele falava cantando. As duas moças que junto a ele trabalham percebem que a conversa esquenta. A mulher ao telefone diz coisas que faz o rapaz afrouxar a gravata e ficar vermelho. A gorda parece tensa a cadeira. Digita, enquanto mantém o olhar no rapaz, interessada em tão quente conversa, parece se contorcer na cadeira. A loira retira um vidro de creme para o corpo da bolsa e o aplica em sua pele. Se afasta um pouco da mesa e cruza as pernas sentada, aplicando o creme nos braços, mãos e pescoço.

O rapaz a nada daquilo presta atenção, ouvindo atentamente a mulher ao telefone. Ela lhe passa um local e um horário. Ele diz que vai estar lá. Vem a sua mente a lembrança do gosto de sangue da mulher em sua boca. Saliva. Saliva como um animal sedento por carne. Ela desliga.

Ele fecha o celular. Apanha a chave do carro e veste o paletó. Passa entre as duas mulheres e diz um até amanhã. Mal percebe que as secretárias lhe desejando uma boa noite.

Ele pensa no local que ela disse. É um lugar estranho. Uma área industrial. Ele acha arriscado. Mal conhece a mulher. Pode ser uma cilada. Talvez tivesse achado que aquele homem tivesse uma fortuna. Ele poderia passar em sua casa antes e levar consigo a pistola automática que comprou a tempos atrás e que desde então nunca usou. Mas ele sentia algo muito forte pela mulher. Por mais estranho que parecesse a relação, em seu íntimo confiava nela como se a conhecesse a décadas.

Ele chega ao local um pouco antes. Fábricas abandonadas. Galpões velhos e escuros. Deixa os fárois do carro acesos. Ouve um ronco de motor. Uma moto. Uma moto grande. Negra. Montado nela observa uma mulher e um belo par de pernas longas. Ela veste um longa bota preta. o Vestido é decotado e curto e uma jaqueta completa seu vestuário. Ele reconhece aquelas pernas de pele branca. Os longos cabelos pretos se mostram ao sair do capacete todo negro. Em um movimento ágil a mulher para a moto dando um ultimo ronco de motor e descendo. Retira o capacete e mostra seu lindo rosto. Ele olha a mulher de cima em baixo. Mesmo não tendo ninguém por ali lhe vem um sentimento de ciúmes enorme ao ver como era curto o vestido da mulher. Era da sua natureza.

Antes que dissesse qualquer coisa ela lhe beija a boca. Isso já faz o homem esquecer o que iria dizer.Ela empurra o rosto do homem durante o beijo e se afasta sorrindo. Ela corre para um dos galpões abandonados de uma velha fábrica desativada. Ele corre atrás e ela grita. São gritos misturados a risadas. Ela parece gostar da noite. Não teme a escuridão do local. Ele se perde. Ela parece correr mais rápido do que o normal. Brinca com ele. Se esconde atrás de colunas e lhe mostra o rosto, soltando risadas. Ri como uma menina. É lindo seu sorriso.

Finalmente se deixa pegar. Os dois caem ao chão. Ele a abraça e a beija. Como esperou para reencontrar aquele beijo. Ela diz sorrindo: "Gostou do beijo da vampira meu menino?"... ele diz: "Do beijo, do abraço, de tudo..."..."Pois não queira conhecer meu abraço, e de nenhum outro vampiro. Você será meu homem, e isso não quero perder. Você sentiu saudade do que mais meu anjo?"...a resposta é imediata, ele sabe do que ela diz. "Do seu sangue".

A mulher morde o próprio pulso fazendo pingar sangue. Ele observa a sua boca suja de sangue e os caninos formando presas afiadas. Mas não tem reação de espanto pois o cheiro do sangue invade sua cabeça, lhe aumentando o desejo e fazendo com que sugue o braço da mulher. Ela geme de prazer vendo o homem a se alimentar de seu poderoso sangue. Ela então o afasta com um forte movimento. Se aproxima novamente e lhe despi. O deixa completamente nu. O beija a boca. Caninos prontos para atacar. Suas unhas afiadas correm pelo peito e costas do rapaz fazendo escorrer o sangue que imediatamente é lambido pela mulher. Ela morde o ombro. Um grito do dor e prazer. Sua boca suja de sangue. "Seu gosto é ótimo." Ela o beija a boca. "Sinta seu gosto".

Ele sente o gosto de seu próprio sangue. Ela se despi. Ela é absurdamente linda. Sua beleza é fora do normal. Os dois fazem amor e depois se deitam ao chão sobre as roupas do homem. Ele fica a admirar a beleza da mulher a dormir em seus braços, iluminada pela luz da lua que adentra ao ambiente pela janela de vidros quebrados.

Ele a abraça, parecendo querer aquecer aquela pele fria. Ela sorri de olhos fechados. "Seu sangue já me aqueceu, ele é quente".

Eles adormecem abraçados, mal percebendo que algo se aproxima. Passos silenciosos, tentando chegar o mais próximos sem ser notados. Observavam a algum tempo o casal a fazer amor.

"É o homem que procuramos. Vamos leva-lo"
Seguem em direção ao casal...

domingo, 2 de agosto de 2009

Eu só queria um trago

O homem acorda suando frio...olha para o lado e vê a mulher de costas dormindo. Nua, esta coberta pelo leve lençol. Ele levanta. Caminha descalço e nu até o banheiro. Acende a luz e se olha no espelho. Barba para fazer. Olheiras de noites mal dormidas. Abre a gaveta do armários e apanha algum remédio que enfia na boca e engole junto a água da pia, aproveitando para lavar o rosto. Caminha até a sala do apartamento onde olha a rua e os carros a andar na noite. Mais uma noite chuvosa.

Para ali de frente a janela. A abre e lhe vem um desejo a mente. Veste a calça jogada ao sofá. O tênis gasto e mal cheiroso. A camiseta surrada. Tenta sentir com os dedos como esta o cabelo. Apanha um boné e disfarça o estar descabelado. Apanha a chave do carro. Volta para o quarto e a vê ainda dormindo como um anjo.

Sai devagar com o carro. Ao virar a esquina acelera e sente como é forte o motor daquela belezinha. Passa a mão pelo banco de couro negro e observa o painel que lhe remete todo o saudosismo daquela antiga maquina. O motor V8 parece rugir e o escapamento danificado faz ficar ainda mais nervoso.

Observa as prostitutas e travestis na rua oferecendo seus corpos. Chega ao local desejado. Um bar. Um boteco. Daqueles podres na pior zona da cidade.

Adentra ao local e todos já o conhecem. Uns olham com cara de desprezo e raiva. Outros se afastam e muitos demonstram medo. Mas ele pouco se importa. Mal olha para os lados. Chega ao balcão e girando rápido se senta no banco e pede:

"Me dê uma cerveja e um cigarro"

A cerveja é aberta e servida em copo barato. O cigarro é forte. Marca dos cowboys. Ele vira a embalagem e sorri. O médico o havia alertado. Pare. Corte seus prazeres. Ele sorri novamente sozinho ali sentado. De boa. Cada prazer em seu tempo. Deixa estar como está. Aquele prazer feri outro prazer que pode ferir outro prazer. Ou não. Ele sorri e antes de abrir pede para trocar o cigarro. Outra marca?? Não. A mesma. Só me vê outro. Sorri. Coisa de doido. O sujeito do balcão xinga baixinho. A tempos atrás ele daria um grito e socaria o sujeito até cuspir dentes e sangue. Mas foi esse tempo. Estaria ficando velho?

Gira novamente a embalagem e ri novamente. Abre e retira um cigarro do jeito que fazia quando tinha a outra mão envolvendo uma cintura. Coloca o cigarro na boca. O sujeito do balcão diz: "Mais alguma coisa polícia?"... ele balbucia com o cigarro na boca: "Fósforo."

Acende o cigarro e bebe a cerveja. Cabeça baixa ouve xingamentos. A música entra em sua cabeça. As pessoas falam coisas como se ele não estivesse ali. E ele não esta. Só veio em busca da necessidade e não faz parte daquele mundo.

Fecha os olhos e sente o prazer do fumo e depois o gosto da cerveja. Mal percebe quando lá fora para uma moto e uma caminhonete. Duas pessoas que entram no lugar. Um negro alto. Cabelo rastafari e coturno. Jaqueta de couro. O outro sujeito, forte, cabelo corte militar e cavanhaque.

Passam por ele e se dirigem para as mesas de bilhar. Mas ele viu. Ele esta sempre alerta. Eles passam e ele observa. Ele vê quando o negro quebra um taco de bilhar no joelho e avança para cima de um punk parecendo querer cravar o pedaço de madeira em suas costas. O rapaz é veloz. Num movimento rápido gira, desviando do ataque e acertando uma rasteira no sujeito que cai ao chão levando uma pisada do jovem certeira no rosto.

Toma o ultimo gole de cerveja e apaga a bituca no balcão se levantando. Bate a mão nas costas e se lembra de não ter trazido sua arma. Decide ir embora e evitar um olho roxo. Mas ouve um grito de mulher. Uma garrafa quebrando. Se vira novamente as mesas de bilhar. Caminha em direção. Vê o branco segurando uma garota, com uma garrafa quebrada na mão. Ameaça cortar o rosto da jovem. O punk magrelo o olha furioso e o negro continua caído no chão parecendo temer se levantar diante de tão frágil rapaz. Pensa que o jovem deve ser algum lutador de kung fu ou capoeira pelo belo golpe aplicado.

O branco com a garrafa na mão grita: "Vai seu sanguessuga de merda...vem cá...da uma de herói...vo acabar com o rostinho da sua escravinha aqui"

Ele pensa...bando de drogados...cada um em sua tribo, um não tolera o outro. O negro se levanta e ri diante do rapaz. O taco de snoker quebrado na mão pronto para arrebentar o rosto do jovem. Pego uma cadeira de metal como o nome da cerveja estampado. Deve resolver. Em um giro rápido do braço acerto pelas costas a cabeça do branco em cheio o fazendo soltar a moça e dobrar o joelho. É o tempo para dar um soco de direita certeiro bem na nuca do cara, que o faz beijar o chão.

Vejo o negro partir para cima do rapaz. O garoto é muito rápido. Dá um salto e sobe na mesa de bilhar acertado em seguida um chute numa giratória que acerta em cheio a boca do negro. Depois gira em um chute novamente e acerta de cima da mesa de bilhar a luminária do salão deixando tudo as escuras. Parece mentira mas ele segue o rapaz fugindo no escuro pelos olhos do punk que parecem brilhar no escuro. Ouvindo sons de sirene da policia ele procura deixar o local diante de uma correria danada, mas podendo observar que o punk ainda leva a garota ameaçada junto.

Entra no carro e acelera. Joga o maço de cigarro pela janela direto na sarjeta. Cheira a mão fedendo ao fumo. Estala os dedos e sente uma dor pelo soco aplicado. A algum tempo não acertava um direto como aquele.

Entra. Tira a roupa. A observa dormindo e depois deita do lado olhando para o teto e buscando dormir. A mão ainda dói.

O despertar

...Volto a consciência...minha cabeça doí...abro os olhos e me vejo em um local escuro...tudo gira...um cheiro estranho...local úmido.

"Olá meu jovem. Que bom que está bem. Achei que o "Bandido" havia lhe batido muito forte."

Olho em frente e vejo o homem que me acertou encostado na parede. O bastão na mão. A parede é úmida e cheia de plantas que crescem se espalhando pela sala mal iluminada.

A voz que me fala é de um homem idoso, com uma barba grisalho e calvo. Ele me lembra muito um professor que havia visto no campus da universidade...mas seus trajes nada se assemelhavam ao terno cinza do professor, era uma roupa como um manto usado pelos bruxos naqueles filmes da idade média.

"Você esteve aqui a dias atrás meu caro jovem. Nós o observamos. E os outros moradores também. De forma menos amigável eles queriam resolver um problema que você criou. Mas eu dei uma solução para tal inquietação. Tudo será resolvido da melhor forma."

O velho fala de forma serena...ouço pingos de uma goteira de água que vem do teto do local...vejo roedores percorrendo por todo lado...estou amarrado em uma cadeira...mal consigo me movimentar. Não entendendo nada do que o velho diz, eu o indago:

"Do que o senhor esta falando? Que problema eu criei? Onde estamos? Quem são vocês e de que moradores está falando?"

Depois de fazer tantas perguntas tomo coragem e solto um grito de desespero: "Socorrooooooooooooooo".....grito com toda minha força.

"Ninguém irá te ouvir. Se acalme, tudo vai se resolver. Bem, vamos começar por mim, me chamo Isaque, eu sou um estudioso...diríamos um pesquisador...estamos em um local abaixo do cemitério...e você esteve aqui dias atrás fotografando...eu preciso da máquina que usa para fotografar."

"Espere ae velhote...Cemitério?? Por acaso vocês são algum tipo de satanistas??? E minha máquina foi um presente...um presente importante....nada vai me fazer entregar ela a vocês...me soltem seus filhas da puta"

Eu começava a ficar nervoso...já imaginava que ia morrer...aquele velho com roupas estranhas e o outro de negro com um pedaço de madeira pronto para rachar minha cabeça...estava desesperado...mas a câmera fotográfica não...era sentimento puro...nada ia me fazer perder ela...olho com toda raiva nos olhos daquele homem que me pediu para entrega-la.

"Bandido, revire a mochila do rapaz e encontre a máquina"

O sujeito abre minha mochila jogada ao chão e a vira derrubando livros e trabalhos da faculdade até encontrar a câmera.

"Bem, aqui está ela. Já tenho o que queria e para que não venha nos importunar e nem se lembre de nós vou fazer com que não se lembre de nada meu caro jovem"

O velho se aproxima de mim olhando fixamente em meus olhos. Parece querer penetrar em minha mente tamanha fixação no olhar. Franzo minha testa e fixo meu olho o encarando com raiva, eu grito com toda minha força tamanha dor que sinto em minha testa...grito que chego a cuspir expulsando toda minha ira:

"NÃOOOOOOOOOOOO"

Foi como se o tempo parasse e me sinto exausto...meus olhos se abrem e vejo o velho a minha frente com um tom de espanto no olhar. O outro homem esta do meu lado a me desamarrar da cadeira.

O velho sorri e diz:

"Você terá sua máquina de volta jovem...terá ela e algo que nunca imaginou ter. Sua luz abrirá sua mente para o obscuro até então escondido"

sábado, 1 de agosto de 2009

Voltando ao começo...

"Venha, venha logo"...mas que caralho, eu bebi tanto assim??? Cerveja, cerveja barata...eu to acostumado a beber uísque...eu não to bêbado!!!
Entro no quarto e a meia luz ela me espera...é eu to sonhando...mas é bem real...vou aproveitar.
Os cabelos lisos negros parecem se mover junto as sombras de uma árvore lá fora iluminada pela luz da lua e que balança na melodia do vento.
Seus olhos miram para mim como que se quisessem me cegar e sua boca se abre e morde o lábio docemente como uma menina a pedir algo.
Esta toda de preto, uma roupa propicia para o frio que faz lá fora.
Deitada na minha cama...Meu Deus o que é aquilo??...fim de noite de domingo perfeito...amanhã será que eu trabalho??
Ela se levanta...barulho do salto da bota a riscar o chão..ainda a morder o lábio vermelho de batom vem a mim devagar...os olhos fixos como se eu fosse um alvo...me toca o ombro...sua pele branca como um leite é fria, a outra mão me toca o pescoço e posso sentir...um leve beijo no pescoço...engulo a seco..."bem...eu não estou lembrado de você...mas como entrou aqui??"
Mas a flagrância entra em meu cérebro...um ecstasy...é como droga para meu cérebro e me faz fechar o olhos...ela sorri e me beija a boca.
É doce...seu gosto é doce...doce como nenhum doce.
"Não importa quem eu sou...importa que sei quem você é...e preciso de você...só não sei o por que, mas se quiser vou embora"
Meu Deus...ela não pode ir embora...de jeito nenhum...estou bobo...como se tivesse sedado.
"Fica...pode ficar...seja quem for"
Ela coloca um dos pés sobre a cadeira a frente da mesa de computador no quarto...abre o ziper da bota...a tira lentamente...eu olho fixo para os pés...ela sorri...a algo mais escondido na bota...uma adaga...uma lamina que brilha ao ser sacada e de ponta fina e mortal.
Mas que porra é aquela...a mulher esta armada...é tudo muito doido...mas eu sou mais pelo jeito...eu to gostando...é excitante...será que esse batom tem alguma droga...deixa rolar.
A doida em um movimento rápido faz verter o sangue de seu próprio pulso...eu chacoalho a cabeça e ela apenas sorri lambendo o sangue e o pouco que escorre dos lábios...aquela língua...ah aquela língua.
"Gosta de sangue??" ...ela me pergunta como a coisa mais comum do mundo.
"É como o vinho?? Quanto mais antigo melhor??"....pergunto em tom de ironia para não demonstrar o tão nervoso estou.
Ela sorri..."Deve ser...pois o meu é ótimo...e vampiros costumam ter séculos de vida"
Antes que pensasse algo sobre aquilo ela me beija a boca...sinto o gosto...gosto de sangue...e o dela não é comum...é delicioso...é muito mais do que o líquido que faz circular vida em nosso corpo...parece que chega rápido ao meu cérebro e transborda meu corpo de prazer...eu busco por mais...ela sorri e me oferece o pulso...e ali fico um tempo que não vejo passar...com os olhos fechados a sugar e ouvindo seus gemidos.
Durmo...como um menino eu durmo e acordo com o despertador...sozinho...o sol a brilhar lá fora...e ela se foi mas seu gosto e seu cheiro permanecem para me fazer crer que não foi um sonho.

reflexões ao jantar

Estou jantando, comida sem gosto, falta o sal. Que merda...é como comer chuchu todo dia ou uma virgem toda a noite. Se meu amigo ouvisse meus pensamentos agora ele iria me contrariar, com toda certeza. Mas claro não pelo chuchu. Chuchu ninguém merece, se bem que minha mãe fazia um suflê de chuchu que enganava o seu nenhum gosto. Mas é que as virgens...elas ainda não tem o sal necessário...não conhecem por exemplo algo que cai bem como trocadilho ao chuchu...mas deixa eu parar de pensar besteira e comer minha comidinha, enquanto a outra observa achando que estou a me saborear com tão deliciosa comida.

Toca o celular, ela já sabe o que é...me olha com aquela cara de merda que só ela sabe fazer e dá aquela bufadinha saindo da cozinha.

Eu atendo: "Tudo bem já to indo...10 minutos...vai acertando nosso lado já"...pego uma jaqueta...chove muito....maldita chuva...o carro velho fica horrível de pegar.

Nem me despeço...ela olha na janela as luzes do carro que ela odeia acenderem e o ronco do motor 8 canecos fazer barulho.

Chego no lugar...uma antiga estação de trem, esta completamente abandonada...que bela bosta...já imagino, um mendigo bêbado morto pelo parceiro de mendicância...deve ser pelo dinheiro da pinga...pinga...hummm...viria a calhar...

Cheiro de urina desgraçada, os milicos já indo embora e os técnicos pra variar ainda não chegaram...devia ter acabado de comer minha gororoba.

O presunto tá lá...cena ótima pra se ver depois de jantar...os dois olhos inchados de tanto apanhar...a boca costurada com o que parece ser linha de pesca...como ninguém ouviu esse cara a gritar??

Roupas velhas, cheira a mendigo, sua barriga toda aberta e as tripas reviradas...fora isso mais nada...

É muito estranho...o cara não é tão fraco...não esta amarrado...nenhuma porrada na cabeça...como teriam feito aquilo sem ele reagir e urrar de dor a ponto de acordar outros mendigos, drogados e prostitutas que circulam aquela região.

Devia estar em coma alcoólico...só pode...antes de ir embora reparo em algo...deitado, cabeça levemente de lado...uma chupada no pescoço...daquelas de noites de amor selvagem, que fica a marca por dias...mas num mendigo fedendo à carniça...acho que não fiz a digestão ainda...deixa eu ir embora... será que encontro em algum restaurante suflê de chuchu??

Silêncio Mortal

Ele anda resmungando...xingando...treme...treme de frio. Seu ténis ensopado e o boné protege sua cabeça, olhos voltados para o chão. Não percebe que chega próximo de um cemitério. Estátuas de anjos e mausoléus. Alta hora. Um silêncio. Um silêncio dos mortos.

Nas costas uma mochila. Livros, estudos e algumas fotografias. Ele as adorava...fotos. A poucos dias esteve ali. Naquele cemitério. Registrou imagens com a câmera antiga que ganhou a pouco tempo. A lente tcheca lhe proporcionava uma qualidade belíssima as imagens, mas sempre lhe trazia um aspecto de algo antigo a mente. Tinha resolvido então fotografar o cemitério e suas tumbas com este ar de passado. De coisa que ficou no tempo e não volta mais. Será que não volta?? Algo corre pelo muro do cemitério...como um gato...mas muito maior...como um homem...que corre parece que deslizando na sombra...

Um sobretudo que se abre e desliza para trás a medida que sua velocidade aumenta a correr o estreito topo do murro do cemitério. Um velocidade assombrosa e silenciosa. Em sua mão trás um bastão...é muito mais que um pedaço de madeira...para melhor pegada estão envolvida por um pano que lhe possibilita manobra-lo com grande destreza...e isso lhe sobra...a ambidestria é clara ao girar o longo bastão com as duas mãos em velocidade espantosa.

Enquanto o rapaz continua a seguir pela calçada extensa do cemitério algo lhe parece estar a sair dos grandes portões negros do cemitério a frente. Mas não é possível...arregala os olhos...os portões estão fechados.

Ouve um zunido...vem de suas costas...como um assobiar ao vento...olha para trás e é tudo muito rápido...somente a lembrança de um homem de sobretudo e um cajado a girar cortando o vento...esta em cima do muro e seu movimento é veloz... em um salto se aproxima lhe acertando com força a cabeça...sente a dor e seus olhos se fecham...

sexta-feira, 31 de julho de 2009

O começo...

Chove...chove muito...as luzes da cidade refletem no carro...vermelho...vermelho sangue...como o batom que encostou a pouco em sua orelha...uma boca...quente...e seu cheiro...lhe vinha a mente e mil turbilhões lhe tomavam as idéias...uma buzina...freia para não bater.

Ele chacoalha a cabeça e acelera novamente...120 por hora e um radar para trás...aumenta o volume do rádio...segue para casa...

Rasga a cidade, e se aproxima da chegada. Lhe vem a mente a voz da mulher com quem esteve a pouco, sussurrando em seu ouvido "Você é meu". De onde ela surgiu? Parecia ter emergido da terra. Sua pele branca, seus cabelos longos negros, seu sorriso tinha algo a mais. Parecia ter sido um sonho. Sim, foi isso, apenas um sonho...ou um pesadelo.

Para o carro, chegou em sua casa. A chuva parece ainda mais forte. Adentra a residência e vai aos poucos se despindo, botão a botão a camisa negra. Sente um ardor nas costas diante da água que escorre. Um flashback em sua cabeça. Não é possível. Se dirige ao espelho. Dificuldade para ver as próprias costas. Mas nota algo, se espanta, sua orelha. Uma marca de batom. O batom vermelho.

No silêncio da casa surge uma voz feminina, vinda de seu quarto. "Venha, eu já estou aqui"...era a voz...aquela voz.